Resgatar o sabor tradicional da culinária fronteiriça e, com ele, as memórias afetivas das famílias é o objetivo do projeto Cozinheiras de Memória. Na oitava edição do Fronte(i)ra – Festival Binacional de Enogastronomia, que começa no próximo dia 28 de julho, este projeto realizará um marco importante: lançar o primeiro caderno de receitas típicas das cidades-irmãs de Santana do Livramento (Brasil) e Rivera (Uruguai).
A curadora do festival, Jussara Dutra, ressalta a importância deste trabalho que começou com a primeira edição do Fronte(i)ra. “Registrar as receitas e conseguir reproduzir o modo de preparo tem um aspecto cultural relevante. É preciso incentivar as pessoas a cozinhar e inserir as novas gerações nesta atividade, pois muito deste conhecimento é passado de forma oral nas famílias. Como as pessoas tendem a cozinhar menos, pela oferta de alimentos industrializados, as receitas se perdem”, detalha.
Neste ano, as mais de 350 participantes do projeto irão apresentar seus pratos no dia 1º de agosto, a partir das 14h30, em um espaço especialmente reservado no Parque Internacional. Além das comidas preparadas – que serão compartilhadas – elas também levarão as receitas anotadas para serem expostas. Desta mostra, serão compiladas para a edição do caderno.
Sandra Ilarraz, uma das participantes que atua na coordenação do Cozinheiras de Memória, explica que as participantes são convidadas a partir de grupos de convívio da terceira idade, tanto em Livramento, quanto em Rivera. E a troca de receitas acaba resgatando as memórias afetivas para todos.
“Pessoalmente, uma receita que me marcou foi a geleia de mocotó. Quando criança, eu via minha mãe fazer, mas passei muitos anos sem contato com este preparo. Até que, no ano passado, teve um senhor que trouxe. Convidei ele para vir preparar com a minha família, nos mostrar como fazer. Reavivou a memória da infância”, conta.
Ela, que é moradora da hoje turística Ferradura dos Vinhedos, afirma que em função do projeto foi atrás das sementes de milho branco. A decisão de cultivar o ingrediente raro em casa é para não perder mais a receita de “Farinha de Cachorro”, uma farofa preparada com o milho branco, amendoim e banha, típica das comunidades quilombolas da fronteira.
A curadora do Fronte(i)ra, Jussara Dutra, pontua, ainda, que o projeto tem reflexo direto na saúde e na qualidade de vida da população idosa da fronteira. “Depois de serem instigados a fazer este resgate, muitos participantes se motivam a voltar a preparar a própria comida. Isso tem um impacto positivo na saúde, pois ajuda a resgatar a qualidade nutricional da alimentação”.
